terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Protesto de cientistas em relação à restrição no uso do termo 'olimpíada' faz COB voltar atrás em nota oficial

Com a repercussão negativa, Comitê Olímpico brasileiro admitiu liberar o uso da palavra que, desde 1894, é aplicada para designar competições educacionais em todo o mundo

(JC) O protesto das principais associações de cientistas do país em relação ao movimento do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para impedir o uso da palavra 'olimpíada' em competições educacionais e científicas conseguiu mobilizar a sociedade, repercutir na imprensa e fazer com que a entidade reavaliasse seu posicionamento em nota oficial.

Em 31 de agosto de 2012, O COB notificou judicialmente o Museu Exploratório de Ciência da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), organizador das Olimpíadas de História do Brasil, pelo uso supostamente indevido do termo. Situações semelhantes já haviam ocorrido com as Olimpíadas de Matemática e de Astronomia. Uma das justificativas para a proibição seria uma exigência do COI (Comitê Olímpico Internacional) de que o COB controle o uso dos termos ligados aos Jogos Olímpicos.

Para professores e cientistas, no entanto, o termo é universal, já que existem olimpíadas de diversas áreas do conhecimento em todas as partes do mundo. Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres, por exemplo, se uniram com as instituições de ensino e fizeram uma série de olimpíadas de conhecimento para aproveitar o sucesso do evento.

Como forma de repúdio a essas notificações, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) encaminharam, no dia 8 de janeiro, carta a Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB. No documento, as instituições que atuam em defesa do avanço científico e tecnológico do Brasil, dizem que a decisão é despropositada e lembram que a palavra é empregada mundialmente para designar competições científicas, tais como International Mathematical Olympiad, Math Olympids for Elementray and Midde Schools, The British Mathematical Olympiad Sibtrust, Science Olympiad, entre muitas outras.

Com a repercussão negativa das cobranças, o COB, em nota oficial, informou que já admite liberar o uso da palavra em questão para fins educacionais. A organização afirma que as cartas enviadas às instituições de ensino têm "caráter educativo", para garantir que "o termo 'olimpíadas', que é uma propriedade do COI, não seja vinculado a questões comerciais".

Matéria publicada em 18 de janeiro pelo Portal UOL diz que o COB comprou briga com a comunidade científica brasileira e que deve desistir da ação. A reportagem traz a opinião da presidente da SBPC, Helena Nader, que lembra a origem da palavra. "O Olimpo não nasceu junto com o esporte. Se alguém quer o direito sobre a palavra, deveriam ser os gregos. Olimpo é uma montanha onde moram os deuses, onde todos almejam chegar. Olimpíada de matemática, história ou ciências não é competição. É algo maior. É a busca pela superação dos limites, não só dos limites físicos. O COB deveria se envergonhar de discutir uma coisa dessas. Receber uma olimpíada esportiva é uma honra, mas receber olimpíadas de matemática ou de ciências é tão importante quanto", argumentou.

Helena Nader defendeu o mesmo posicionamento em matéria publicada pela Folha de São Paulo, que também ouviu Jacob Palis, presidente da ABC. Para ele, é lamentável que a polêmica ocorra num momento em que o Brasil é destaque na área. "Nós recebemos, no ano passado, a Olimpíada Mundial de Astronomia. Agora há pouco, tivemos um jovem brasileiro (Matheus Camacho, 14) ganhando uma medalha de ouro em uma das maiores competições do mundo, a Olimpíada Internacional de Ciência. A decisão do COB é equivocada", afirmou.

Os cientistas não vão abrir mão do uso da palavra. "O COB quer ter o monopólio da palavra e isso nós não aceitamos, disse Nader. "Olimpíada científica é um conceito internacionalmente consagrado. A sua proibição aqui só é prejudicial para o conhecimento", defendeu.

Para o físico Luiz Davidovich, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor da Academia Brasileira de Ciências, não há sentido em limitar a aplicação do termo, considerando que ele é de uso internacional. "Em outros países, as competições internacionais também são assim chamadas, de modo que essa polêmica não se justifica", avalia. "As olimpíadas científicas realizadas no Brasil também têm cunho internacional, elas são importantes para o país e têm que continuar acontecendo. O termo olimpíada é apropriado e validado internacionalmente", conclui o professor.

A polêmica também acirrou o debate jurídico. O assunto foi destaque no Portal Consultor Jurídico e em outros sites especializados em Direito. Raul Iserhard, professor aposentado da UFSCPA, divulgou a carta da SBPC e da ABC em redes sociais. Para a funcionária pública federal Nicole Sigaud , é lamentável a intenção do COB. "De qualquer ângulo que se veja, a atitude foi patética", opinou em carta ao Jornal da Ciência.

Panorama mundial
No mundo, o termo 'olimpíada' nas competições científicas, principalmente em matemática, é usado desde 1894 na Hungria, pioneiro na realização das olimpíadas científicas. Com o passar dos anos, competições similares foram se espalhando pelo leste europeu, culminando, em 1959, com a organização da 1ª Olimpíada Internacional de Matemática, na Romênia, com a participação de países daquela região. No Brasil, a primeira Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) foi realizada pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) em 1979, três décadas antes do início da Obmep.

Carta de repúdio:

São Paulo, 08 de janeiro de 2013

Ilustríssimo Senhor
CARLOS ARTHUR NUZMAN
Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)

Senhor Presidente,

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade civil, sem fins lucrativos nem cor político-partidária, que atua em defesa do avanço científico e tecnológico do Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), receberam com espanto e indignação a informação de que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) notificou extra-judicialmente a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pelo uso supostamente indevido da palavra "olimpíada", no nome da competição que organiza, a Olimpíada Nacional em História do Brasil.

Ninguém ignora a importância dessas competições científicas - no país já existem 18 delas - para a divulgação da ciência e o aumento do interesse dos jovens pelas atividades científicas, o que é fundamental para o desenvolvimento tecnológico de qualquer nação e o bem estar econômico e social de sua população.

Sem esquecer que jovens que vencem as olimpíadas nacionais depois vão participar de competições internacionais. E muitos deles têm se destacado, contribuindo para divulgar o nome do Brasil e da ciência e educação do país. É o caso, por exemplo, do jovem Matheus Camacho, de 14 anos, aluno de uma escola de São Paulo, que acaba de conquistar em Teerã, uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Ciências, concorrendo com estudantes de 28 países.

Por isso, a proibição do uso da palavra "olimpíadas" para designar competições científicas é uma situação que se configura mais despropositada ainda, quando se sabe que a palavra é empregada mundialmente para designar competições científicas, tais como International Mathematical Olympiad, Math Olympids for Elementray and Midde Schools, The British Mathematical Olympiad Sibtrust, Science Olympiad, entre muitas outras.

Assim, a SBPC e a ABC não concordam com a decisão do COB de ter a exclusividade do uso da palavra "olimpíada", pois significará um retrocesso trazendo em prejuízo a todas as tradicionais olimpíadas educacionais (matemática, ciências, língua portuguesa, química, astronomia entre outras) que se realizam no Brasil há anos.

Sempre prontas a defender a ciência e a educação brasileira, a SBPC e a ABC subscrevem,

Atenciosamente

Helena Nader
Presidente
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Jacob Palis
Presidente
Academia Brasileira de Ciências


Nota oficial do COB:

As cartas enviadas às instituições de ensino têm caráter educativo, de forma a garantir que o termo "Olimpíadas", que é uma propriedade do Comitê Olímpico Internacional (COI), não seja vinculado a questões comerciais. O Comitê Olímpico Brasileiro está estudando, em conjunto com o COI, a possibilidade de autorizar a utilização do termo para fins propostos, como por exemplo, pela UNICAMP.

Tão logo tenhamos um posicionamento quanto ao tema, a UNICAMP será formalmente comunicada.

Sobre os símbolos e designações olímpicas, estes são de propriedade do Comitê Olímpico Internacional (COI), que, através da Carta Olímpica, exige dos Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) a defesa das marcas em seus respectivos países.

Somente os CONs, os Comitês Organizadores de Jogos Olímpicos e patrocinadores do Movimento têm autorização de uso das marcas, símbolos, designações e demais direitos de propriedade industrial do COI.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Alunos de escolas reprovadas em avaliações do MEC se destacam em olimpíadas de Matemática e Português

(O Globo/JC) Alunos de escolas públicas reprovadas em avaliações do Ministério da Educação (MEC) estão entre os ganhadores de medalhas de ouro em olimpíadas de Matemática e Língua Portuguesa. Diferentemente dos colégios onde estudam, eles driblam a pobreza, a baixa escolaridade dos pais e a má formação dos professores.

Em Sítio do Mato (BA), a 800 quilômetros de Salvador, o estudante Felipe Vieira Costa, de 13 anos, já conquistou três medalhas - uma de bronze e duas de ouro - na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Ele ficou em 33º lugar, entre cinco milhões de inscritos das séries finais do ensino fundamental, na edição 2012 - os 200 melhores ganham ouro.

O bom desempenho de Felipe contrasta com o da Escola Municipal Professor Avelino Nunes Rodrigues, onde estuda. Ela ocupa a posição 29.204, entre 30.842 estabelecimentos públicos, no mais recente ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb 2011), principal indicador de qualidade do ensino brasileiro.

Na paraibana Pombal, a 370 quilômetros da capital João Pessoa, a estudante Patrícia Vieira de Queiroga, de 16 anos, foi uma das 20 medalhistas de ouro na última Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro - que teve 3,2 milhões de participantes em todo o país. Ela venceu na categoria Artigo de Opinião.

Filha de um pedreiro analfabeto que só sabe assinar o próprio nome, Patrícia é aluna da Escola Estadual Monsenhor Vicente Freitas, que aparece na colocação 8.075, entre 10.076 colégios, no ranking de provas objetivas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2011).

O diretor adjunto do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Claudio Landim, diz que a baixa qualidade do ensino brasileiro não estimula, e é insensível a mentes brilhantes.

- É evidente. Isso está acontecendo todo ano. Há muitos alunos brasileiros talentosos que não estão tendo a oportunidade de desenvolver suas aptidões - diz Landim, que é o coordenador-geral da Obmep.

Em Sítio do Mato, Quirino Sousa Costa, pai do medalhista Felipe, diz que o filho sempre teve habilidade com números e consegue superar as deficiências do ensino público na cidade. Em 2011, a escola onde Felipe estuda obteve seu melhor resultado no Ideb: 2,4. Abaixo, portanto, das médias gerais nacional (4,1) e baiana (3,3).

- Ele aprende com facilidade, faz cálculos de cabeça, fora do normal. Se a gente levar em consideração a escola, a bagunça, acho que é um dom - afirma Quirino.
Aos 37 anos, o pai conta que voltou para Sítio do Mato em 2008, depois de tentar a sorte na cidade de São Paulo, por mais de uma década. Foi na capital paulista que Felipe nasceu e estudou até a 3ª série, enquanto o pai trabalhava como vigilante, e a mãe - uma ex-professora primária -, como atendente de call center .

- Meus primeiros brinquedos foram um dicionário e uma calculadora. Fui para a escola sabendo ler e escrever - conta o garoto.

Ele fala em cursar Engenharia na universidade, de preferência na Noruega, com bolsa do programa Ciência sem Fronteiras:

- É um país desenvolvido e o primeiro no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.

O êxito acadêmico de Felipe mobiliza a família. Quirino conta que uma tia que trabalhou como empregada doméstica em São Paulo chegou a enviar livros didáticos usados pelos filhos do patrão numa escola particular.

Em 27 de agosto do ano passado, a presidente Dilma Rousseff compareceu à premiação da Obmep de 2011 - nessa, Felipe também foi medalhista de ouro. Quirino lamenta não ter acompanhado o filho na cerimônia, no Teatro Municipal do Rio. Diz que faltou dinheiro. O garoto e outros vencedores tiraram fotos com Dilma. Felipe não conseguiu posar sozinho ao lado da presidente, mas deu um jeito: editou a imagem.

- Pedimos para cortar e ampliar, para colocarmos na sala - explica. A foto de Felipe e Dilma está num porta-retrato.

Em Pombal, o artigo que garantiu a vitória de Patrícia, na Olimpíada de Língua Portuguesa, trata da derrubada da chaminé de uma antiga fábrica, motivo de acirrada polêmica na cidade.
- Foi incrível. Sempre gostei muito de ler, só que não tinha o hábito de escrever. Desenvolvi durante as aulas. A professora focou bastante nas olimpíadas. Pode parecer clichê, mas só escreve bem quem lê. Eu indico isso: leitura acima de tudo. Meu pai está muito orgulhoso - diz Patrícia.

Antes de ser transferida para a Escola Monsenhor Vicente Freitas, ela foi aluna de outro colégio estadual no município, o João da Mata. A ex-escola não está listada no mais recente ranking do Enem. Mas o desempenho de suas turmas de ensino fundamental, no Ideb, dá uma ideia das dificuldades que o ex-colégio de Patrícia enfrenta. Em 2011, o João da Mata teve Ideb 2,3 nas séries finais do fundamental, resultado que o deixou na posição 29.581, num universo de 30.842 estabelecimentos públicos no país.

Patrícia terminará o ensino médio este ano. Ela quer ser médica:
- É um curso muito concorrido. Pelo menos na redação, eu me garanto.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Olimpíada e Jornada Espacial Aproximam Estudantes da Pesquisa Científica



(FAB/Brazilian Space) A história do cearense Ricardo Oliveira tinha todos os ingredientes para ser igual à de milhares de pessoas que desistiram de um sonho. Filho de agricultores, nasceu com amiotrofia espinhal, doença genética que limita os movimentos. Alfabetizado em casa pela mãe, somente aos 17 anos ingressou na 5ª série do Ensino Fundamental e não tardou para o jovem dar sinais da sua força de vontade: conquistou quatro medalhas na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, premiação que o credenciou a participar da Jornada Espacial, evento realizado anualmente pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). “Realizar eventos que despertem nos jovens o interesse pela área espacial é como iluminar (ainda que com uma lanterna) os caminhos alternativos que eles têm ao seu dispor”, explica José Bezerra Filho, um dos mentores do projeto.

Casos como o do cearense Ricardo Oliveira mostram como a determinação é elemento essencial para transformar vidas e que a realização de eventos que sirvam como palco para jovens talentos mostrarem suas habilidades é imprescindível. Criada em 2005, a Jornada Espacial dá oportunidade aos alunos com melhores desempenhos na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica de conhecer o universo da tecnologia aeroespacial e ter contato direto com profissionais que atuam na área. O sucesso do evento reflete-se nas marcas alcançadas: ao todo, 444 alunos dos 26 estados brasileiros participaram das oito edições realizadas até agora. Desses, 169 são oriundos de escolas públicas. “É imperativo mostrar aos jovens que existe um Brasil e brasileiros que não aparecem nas revistas semanais, nem no noticiário televisivo, mas que fazem uma diferença enorme para o bem desse país”, explica Bezerra.

Exemplos positivos que brotaram da Jornada Espacial não param por aí. A estudante Indhyara Dhânddara, 17 anos, tornou-se a primeira aluna do pequeno município de Paraupebas, no Pará, a participar – e sair vitoriosa – de um torneio com enfoque nas questões espaciais. Entre um acesso e outro ao facebook, rede social que frequenta assiduamente, Indhyara relembra a experiência gratificante que foi participar da Jornada Espacial, conhecer o DCTA e assistir à palestra do astronauta Marcos Pontes, do qual se intitula fã de carteirinha. “Cada palestra fazia com que meu interesse só aumentasse. Os professores e doutores que tive contato foram grandes exemplos de onde se pode chegar com estudo e trabalho”, revela a jovem, que tem como espelho nos estudos a mãe, Nubethânia Matos, aprovada em 2º lugar na primeira turma do curso de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Após participar da Jornada Espacial e conhecer as dependências do DCTA, Indhyara descobriu um novo mundo, do qual ela não quer mais se afastar. “Antes da Jornada, eu não sabia ainda que carreira profissional seguir. Acredito que o evento cumpriu seu papel na minha vida. Talvez eu nunca tivesse descoberto esse interesse ou possibilidade de trabalhar para o Brasil se não fosse esse evento”, acrescenta a estudante, que agora sonha em ingressar no curso de Engenharia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), lugar ao qual se refere, encantada, como “templo do conhecimento”.

Eventos como a Jornada Espacial objetivam plantar a primeira semente em busca da conscientização no que toca à área espacial e, como consequência, ajudam na formação de futuros profissionais. Esse foi o caso de Danilo José Franzim Miranda, que participava, em 2005, da primeira edição do projeto. Então aluno do primeiro ano do ensino médio do Colégio Militar de Brasília, Danilo voltou à jornada também no ano seguinte. Na oportunidade, desenvolveu um foguete, movido a álcool, feito de garrafa PET com as bases de PVC. “Considero a área espacial a verdadeira fronteira do conhecimento do ser humano, é o que mais comove o meu coração”, disse ele à época, dando prenúncio do que mais tarde estava por vir. Em 2008, Danilo ingressou na 1ª turma de Engenharia Aeroespacial do ITA, curso que concluiu em 2012 com um trabalho sobre o Veículo Lançador de Satélites (VLS). A semente plantada lá atrás, em 2005, na primeira edição da Jornada Espacial, trouxe bons frutos à sociedade: Danilo hoje é engenheiro da Visiona, empresa nascida a partir de uma parceria entre a Telebrás e Embraer, que será responsável pelo lançamento do primeiro satélite geoestacionário brasileiro.

A realização de eventos como a Olimpíada Brasileira de Astronomia e a Jornada Espacial, que servem de plataforma para que jovens como Ricardo, Indhyara e Danilo aprimorem seus interesses sobre foguetes, satélites e aplicações, temáticas ainda pouco conhecidas pela sociedade em geral, significa um importante passo para a valorização dos talentos brasileiros – coisa que países emergentes como China e Índia já têm se empenhado em fazer.

Para José Bezerra Filho, os projetos voltados à área educacional aos quais é ligado se justificam por mostrar aos estudantes que existe um caminho a trilhar dentro do Brasil: “temos o dever para com o país de levantarmos a bandeira do conhecimento. No fundo, no fundo, eu sinto a obrigação de fazer o que faço”.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Comitê olímpico quer barrar termo 'olimpíada' em torneio educacional

Em carta, associações de cientistas do país classificam a ação como "despropositada"

(JC) O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) está se movimentando juridicamente para impedir que universidades e associações de pesquisa usem a palavra olimpíada em suas competições educacionais. A atitude provocou protestos das principais associações de cientistas do país.

No fim de 2012, a Unicamp foi notificada extrajudicialmente pelo comitê devido ao uso supostamente indevido do termo em um dos eventos organizados pela instituição, a Olimpíada Nacional em História do Brasil.

O texto diz que o uso das palavras olimpíada e jogos olímpicos "é privativo" dos comitês Olímpico e Paraolímpico do Brasil. Organizadores de várias outras olimpíadas educacionais, como a de português e de astronomia, receberam notificações semelhantes.

Em carta aberta enviada nesta semana a Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) classificaram a ação como "despropositada".

No Brasil existem cerca de 20 olimpíadas educacionais nacionais.

Reação
A presidente da SBPC, Helena Nader, disse que os cientistas não vão abrir mão do uso da palavra. "Eles [o COB] estão querendo ter o monopólio da palavra e isso nós não aceitamos. Olimpíada científica é um conceito internacionalmente consagrado. A sua proibição aqui só é prejudicial para o conhecimento", afirmou.

Jacob Palis, presidente da ABC, lamentou a iniciativa em um momento em que o Brasil é destaque na área. "Nós recebemos, no ano passado, a Olimpíada Mundial de Astronomia. Agora há pouco, tivemos um jovem brasileiro [Matheus Camacho, 14] ganhando uma medalha de ouro em uma das maiores competições do mundo, a Olimpíada Internacional de Ciência. A decisão do COB é equivocada", disse.

A Unicamp afirmou que continuará usando o termo para designar a competição.

Para Mônica Guise Rosina, professora de propriedade intelectual da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, a notificação sobre a exclusividade do termo é "tecnicamente possível, mas absolutamente descabida".

"Essa terminologia já é usada há anos para as competições científicas. O problema seria se houvesse o risco das pessoas confundirem um evento com o outro."

Outro lado
Em nota, o Comitê Olímpico Brasileiro afirmou que as cartas enviadas às instituições de ensino têm "caráter educativo", para garantir que "o termo 'olimpíadas', que é uma propriedade do COI (Comitê Olímpico Internacional), não seja vinculado a questões comerciais", completa.

A entidade disse à Folha que estuda autorizar o uso do termo para fins educacionais, como é o caso da olimpíada organizada pela Unicamp.

De qualquer modo, para evitar problemas, algumas competições já abandonaram o termo. É o caso da antiga Olimpíada Brasileira de Foguetes que, após ser notificada pelo COB, virou Mostra Brasileira de Foguetes.

"Já temos trabalho demais para montar os eventos. Não dispomos de tempo e dinheiro para ficar brigando com o COB", diz João Bastista Canalle, organizador da mostra. A decisão do COB contraria os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, que realizam olimpíadas educacionais. O ministério da Ciência disse, porém, não ter recebido qualquer notificação do COB. Só a Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas teve, em 2012, quase 20 milhões de inscritos.

Outros alvos
Além das competições educacionais, livros e até uma rede de supermercados foram alvos de notificações do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). A professora e pesquisadora da Escola de Educação Física e Esporte da USP Katia Rubio recebeu em janeiro de 2010 uma notificação extrajudicial determinando o recolhimento de seu livro "Esporte, Educação e Valores Olímpicos" em até dez dias.

O COB a acusava de uso indevido da palavra "olímpicos" e dos cinco anéis estilizados na capa. O não cumprimento da determinação poderia render multa e até detenção.

Semanas depois o COB reconheceu que o livro era uma produção intelectual destinada a disseminar "o valioso conhecimento sobre o Olimpismo".

Rubio tem 15 livros escritos e organizados na área de psicologia do esporte, e algumas das publicações anteriores já tinham termos ligados aos Jogos Olímpicos nos títulos.

O livro que foi alvo de notificação do COB, porém, foi lançado perto do anúncio de que os Jogos Olímpicos de 2016 seriam realizados no Rio.

Em 2009, os Supermercados Guanabara lançaram uma campanha publicitária intitulada "Olimpíadas Premiadas", protagonizada pelos atletas Diego e Daniele Hypólito.

O comitê tentou impedir a publicidade, mas o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro entendeu que não houve demonstração de que a empresa quis se passar por patrocinador oficial do evento esportivo.

"O COI é proprietário das marcas e autoriza seu uso em cada país, mas é preciso ter bom senso. O caso do supermercado abre um precedente legal porque analisou que não houve má-fé, e nem a Unicamp tem interesse comercial algum com a Olimpíada de História", afirma Alberto Murray Neto, advogado de Katia Rubio e ex-membro do COB.
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Matéria original na Folha
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Matérias similares no G1 e Física na Veia
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UPDATE:
COB admite liberar o uso do termo olimpíada (JC)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Restrição ao uso da palavra "olimpíadas" causa espanto e indignação

SBPC e ABC se manifestam em carta encaminhada ao COB

(JC) A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) encaminharam carta ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, em defesa da liberdade de uso da palavra "olimpíadas" para designar competições científicas. O documento classifica como despropositada a proibição do COB nesse sentido.

As instituições argumentam que a palavra é empregada mundialmente para designar competições científicas como International Mathematical Olympiad, Math Olympids for Elementray and Midde Schools, The British Mathematical Olympiad Sibtrust, e Science Olympiad.

A seguir, transcrevemos a íntegra do documento:

"Ilustríssimo Senhor

CARLOS ARTHUR NUZMAN

Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)

Senhor Presidente,

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade civil, sem fins lucrativos nem cor político-partidária, que atua em defesa do avanço científico e tecnológico do Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), receberam com espanto e indignação a informação de que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) notificou extra-judicialmente a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pelo uso supostamente indevido da palavra "olimpíada", no nome da competição que organiza, a Olimpíada Nacional em História do Brasil.

Ninguém ignora a importância dessas competições científicas - no país já existem 18 delas - para a divulgação da ciência e o aumento do interesse dos jovens pelas atividades científicas, o que é fundamental para o desenvolvimento tecnológico de qualquer nação e o bem estar econômico e social de sua população.

Sem esquecer que jovens que vencem as olimpíadas nacionais depois vão participar de competições internacionais. E muitos deles têm se destacado, contribuindo para divulgar o nome do Brasil e da ciência e educação do país. É o caso, por exemplo, do jovem Matheus Camacho, de 14 anos, aluno de uma escola de São Paulo, que acaba de conquistar em Teerã, uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Ciências, concorrendo com estudantes de 28 países.

Por isso, a proibição do uso da palavra "olimpíadas" para designar competições científicas é uma situação que se configura mais despropositada ainda, quando se sabe que a palavra é empregada mundialmente para designar competições científicas, tais como International Mathematical Olympiad, Math Olympids for Elementray and Midde Schools, The British Mathematical Olympiad Sibtrust, Science Olympiad, entre muitas outras.

Assim, a SBPC e a ABC não concordam com a decisão do COB de ter a exclusividade do uso da palavra "olimpíada", pois significará um retrocesso trazendo em prejuízo a todas as tradicionais olimpíadas educacionais (matemática, ciências, língua portuguesa, química, astronomia entre outras) que se realizam no Brasil há anos.

Sempre prontas a defender a ciência e a educação brasileira, a SBPC e a ABC subscrevem,

Atenciosamente,

Helena B. Nader
Presidente da SBPC

Jacob Palis
Presidente da ABC"